domingo, 29 de agosto de 2010

Que país é esse?

"(...) Se desmorono ou se edifico,

Se permaneço ou me desfaço,

_ não sei, não sei . Não sei se fico

ou passo (...)"


(Cecília Meireles)


Sabe quando você chega ao ponto de não saber como reagir com certas situações? Quando mais uma denúncia te deixa incrédula e ao mesmo tempo intacta por dentro, porque simplesmente você sabe que as coisas são dessa forma e não mudam? Pois é, parece que os abusos de poder público e corrupções não chegam ao fim: o ralo está aberto e o cheiro de esgoto não para. Acontece que, olhando rapidamente o portal da Uol uma notícia me chamou a atenção :


Juiz militar do caso Cissa é preso por furto de cabos de telefonia no Rio


Em qual autoridade podemos dar créditos hoje em dia? Quem deveria exercer uma função digna de ética, para poder julgar com capacidade e servir como exemplo de profissional moralmente intacto, está, na verdade, tão pouco passível de ser aceito com confiança como aqueles que serão julgados pelo mesmo. Talvez estejamos na era do ditado : ladrão que julga ladrão tem cem anos de perdão. Estamos imersos numa cadeia alimentar intoxicada. Sabe quando um peixe menor contém em si um material tóxico e, quando seu sucessor na cadeia alimentar vem alimentar-se desse mesmo peixe, de modo a dar uma continuidade àquela podridão ao passo que esta teia vai se estendendo? Então, é mais ou menos assim que estamos. Quando assistimos aos noticiários para nos informar das tragédias costumeiras que queremos estar a par, o peixe mor chega com toda sua fetidão...uma avalanche de acontecimentos nos é exposta, continuamos a nos surpreender e a nos conformar com essas situações: a bola de neve parece não ter fim e assim incorporamos aquele pensamento que parece mais transcendental que humano "a política é assim, os nossos representantes são assim, a polícia é assim..não adianta, não muda. Estamos sujeitos a essa força superior, o que nos resta agora é aceitar". Será mesmo que tem que ser assim? Será que não há uma maneira eficaz de acabar com isso, além de denunciar através da mídia e depois tudo se calar e voltar ao normal até que outro avalanche nos abale?
É curioso como o portal da internet classifica a notícia: "Cotidiano". Entendo sua colocação, mas parece irônico...essas falhas são tão cotidianas que às vezes podem passar despercebidas ou, se notadas, o efeito narcotizante sobre nós já é tão presente que simplesmente não ligamos. Estou muito nova para me conformar. Será que vai ser sempre assim? Não sei, não sei se fico ou se passo.

3 comentários:

  1. Eu sempre usei essa metáfora da bola de neve também, como algo que aumenta sem que possamos controlar! É agoniate, eu sei! Me identifiquei muito com o seu texto! Também me sinto nova de mais para me conformar, e mesmo que ainda me sintisse velha acho que nunca me acostumaria com a conformação... Enfim, adorei o texto e a reflexão sobre a divisão do assunto como cotidiano achei super válida! Concordo! Parabéns!
    Beijão! Vou voltar mais aqui!

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  2. Reflexão sensata e pertinente. Texto muito bem escrito. Tá parecendo comigo. rs
    bjs

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