segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quase tudo

Era uma pessoa intrigante. Irritava com suas tolas brincadeiras e falta de personalidade. Sua estupidez e sua mente maquiavélica. Surpreendia com sua seriedade e sua inteligência. Sim, tinha inteligência: seu ócio era por mera opção. E fico pensando o que não poderia se tornar se desenvolvesse o potencial que, achava eu, carregava.

Mas não seria personalidade o que era? Dividia-se em dois: numa dualidade que quase podia separá-lo em bem e mal, chato e legal, entediante e...o que mais? Duvidava (eu) da imagem que queria mostrar. Parecia querer ser alguém impiedoso e soberano. Mas mal podia eu acreditar no que via, pois sua imagem colocava muitas vezes em contrapartida o que dizia ser. Entretanto, as más línguas confirmavam sua inescrupulosidade.

Podia ser quase adorável e quase desprezível. Não era uma pessoa fascinante, Talvez nunca pudesse sê-lo. Mas o que seria então?Era abstrato o pensamento que nele vagava. Era a oscilação do vazio com a presença. Era a tentativa de formar um conceito ou uma teoria que não fosse aplicável ao concreto.

Podia dar a sensação de proteção e amabilidade. Mas não se esforçava para parecer perigoso: podia dar medo com suas palavras, sem necessidade de ser sério; suas brincadeiras às vezes carregavam um quê obscuro. E seu riso podia até retrair corpos ou mentes para um canto afastado de si.

O que era? Talvez a incompreensão do que é um humano . É a dúvida, ou não, se o tempo pode trazer a forma mais definida do que é o verbo SER. É a dúvida da dupla-personalidade (ou multi?) que pode se esconder num só corpo e num só espírito. Talvez tenha várias caras: uma quase bonita, outra quase feia, diria Clarice. Ele é um o quê? Um quase tudo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entreatos

Era o momento, não o que se situava entre a recepção e o adeus. Como numa fita de rebobinar, era o adeus que ansiava pelo retorno, para ser recebido e tudo voltar ao normal. Ou melhor, não era o adeus: era seu fantasma. Algo sem os abraços e beijos que ele sempre carrega consigo, sem mesmo aquele último olhar que traz o receio de esperar alguma resposta de pergunta nenhuma.


E logo veio o desespero do tempo interromper aquela rebobinação. Era a culpa do amor maior. Era o medo do último suspiro, da última cena, do último aplauso e da última visão da plateia que a cortina, ao se fechar, proporciona ao ator.


De repente era fácil perceber: os cílios não respiravam mais...já estavam afogados em lágrimas salgadas. A boca ressecada pelo mar morto que a regava. Pensar? o único pensamento era do instante que não fôra, do momento que se perdera, da infelicidade que se instalou.

O momento que pune, que, enquanto não obtiver seu desfecho, será só mais uma dúvida - uma angústia e nada mais.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

E eu pergunto e tento. Eu falho e erro. Eu me canso e descanso da luta de conviver. Conviver de bem com o meu modo de passar o tempo e conviver com o peso da consciência. Consciência de ter mais para fazer e aproveitar, de me doar mais à tentativa. O peso de fracassar por causa nobre: meu ego me mantém estática. O peso do tempo que não perdoa. O peso da consciência que a morte não engana.
Vozes passadas soam na mente, soçobrando algo que machuca. A verdade dói.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um possível Capitão do Asfalto

Trem. Olhos grudados em Capitães da Areia, de Jorge Amado. “Desembarque”. Celular. Distração. Abordagem. Coincidência literária. Menino pobre e mal vestido. Desconfiança e medo. Preconceito. “Não é para pedir dinheiro não, senhora”. Então penso: “se não é isso, o que mais poderia ser?”. Ignoro. Continuo a negar. Ele continua a insistir. Paro numa lanchonete. Procuro alguma desculpa para mim mesma para que eu possa evitá-lo e prevenir um possível assalto, segundo minha apreensão. Um homem pede que ele me deixe em paz. Ele foi. Eu fiquei, mas não em paz.Minha consciência começa a latejar. A curiosidade bate. A culpabilidade também: o que será que ele queria comigo? O que eu poderia fazer por ele? Ou será que era só mais um pivete malandro? Fiquei com essa questão num tempo considerável. Como sou preconceituosa. Como me tornaram assim...como me conformei ser assim. É certo que não precisamos ser hipócritas, temos de admitir que boa parte dos meninos de rua estão soltos por aí observando passantes que possam ser possíveis “clientes” seus, participantes de sua rotina de furtos e roubos. Mas também não precisamos generalizar e enquadrar todos os moradores de rua e pessoas que vivem na miséria como indivíduos desonestos e criminosos. Não tenho resposta para o acontecimento de hoje. Talvez seja esta a causa da minha culpa. Sentindo-me tão perto da crua realidade e ao mesmo tempo tão alheia a ela: tão ignorante quanto às mazelas que me cercam. Tão no meu mundo e na minha bolha, enquanto o mundo lá fora se desfaz, ou melhor,ele nunca foi feito ou moldado. Foi deixado de lado e por si próprio cresceu e se hipertrofiou, e nós, na nossa redoma, simplesmente nos tornamos indiferentes ao caos que se instalou (não desde agora, mas num processo antigo...). Contei a alguém o meu pesar. Escuto que sou muito ingênua e distraída. Eles são ágeis e mais espertos que eu. Tento esclarecer a minha linha de pensamento e o que recebo de resposta? Infelizmente a vida é assim”.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SÓ DE SACANAGEM

Ainda me lembro da primeira vez em que conheci o texto de Elisa Lucinda intitulado “Só de sacanagem”. Foi numa bela tarde primaveril, enquanto escutava um CD de Ana Carolina que descobri este achado. Tive outras oportunidades de relembrá-lo, como numa prova de português do colégio ou, o motivo pelo qual escrevo agora, por uma irritação pessoal.

Foi numa discussão, bem assim: começou-se a falar de política e sobre os candidatos do segundo turno à presidência. Acabei entrando em conflito sobre meu candidato e o deles. Acho que política é uma questão de ideologia, opinião e, muitas vezes, de falta de esclarecimento. Mas não acho que as palavras “certo” e “errado” se enquadrem neste assunto. E é isto que envolve nossa “briga”. À começar que esculhambaram meu candidato...por mais que eu não ache que ele(sentido impessoal) seja o ideal de representante, ou como disse Wagner Moura “ Não é com entusiasmo que irei votar”, acho que seja o melhor entre os dois. Por conseguinte, utilizaram-se de uma grande mídia para basear seus argumentos: parecia que não estava falando com pessoas reais, porém lendo uma revista que senti estar deslizando em minhas mãos com suas páginas repletas de acusações muitas vezes sem embasamento. E foi assim que a conversa deu rumo a um aspecto “você está errada”, “é um absurdo isso que você está falando”. Sei que são pessoas mais velhas e com mais experiência. Posso até mudar de idéia mais tarde quando tiver leitura suficiente para ter minha própria opinião bem mais consolidada do que esta que tenho agora como minha, mas realmente acho que eles não deveriam defender ferrenhamente um candidato que, para mim, não é digno de tanta defesa, ainda mais com a base não convincente de suas respostas.

Nervosa como às vezes fico quando sou contrariada, não expus as melhores cartas que tinha para dar sustentação a meu voto. Fiquei quieta muitas vezes com suas falas. E, depois, na hora de dormir, quando os pensamentos voltam à tona e o fim do túnel parece chegar, a irritação vem junto, te dando mil palavras e ideias. Como não convinha tocar no assunto de novo e gerar outro estresse para ambos os lados, vim aliviar esta tensão que guardo comigo. Escrevo um texto que não se dirige pessoalmente a eles; preciso , por aqui, afirmar uma posição: só de sacanagem vou votar com vontade neste candidato. Não vai ser com falta de entusiasmo, vai ser com força, para ratificar minha posição contra o candidato deles e contra eles. Para mostrar com orgulho que, assim como me disseram, não se pode acreditar em tudo que se lê, e que tudo aquilo não passava de uma farsa de palavras usadas pela mídia como poder de coersão. E, se uma vez eleito pelo voto deles o candidato que não sou a favor, que entre no governo com sorriso no rosto, e saia vaiado, porque é também com raiva e erros que se move o mundo e se escreve um texto.


domingo, 3 de outubro de 2010

Doce escapatória


Estou esperando a hora de ir votar. Minha primeira votação, e não farei por ela mais do que ela fez por mim. Tentei, na maneira que pude, acompanhar a corrida eleitoral e me informar sobre meus pretendentes a voto, e também sobre aqueles que já tinha descartado minha contribuição.
Essa "festa da democracia" que tantos mencionam me traz a mente vários pensamentos e indagações. Surgiu uma reflexão este domingo de manhã, quando lia João Ubaldo Ribeiro no jornal O Globo. Em seu texto ele destaca dois tipos de eleitores: os que votam porque é obrigatório e os que não viram campanha alguma e, se viram, não entenderam. Conforme esta última classificação, o cidadão "votaria errado", pois troca seu voto por dinheiro, empregos, dentaduras, intervenções cirúrgicas ou qualquer outra bagatela. Em suas palavras diz que esse eleitor "aproveita-se do voto na única ocasião em que ele lhe tem alguma serventia". Mas, realmente, que perspectivas esse eleitor deve ter do seu voto e da sua escolha? Talvez sua vida seja tão carente de coisas básicas que o que ele mais espera seja aquele imediatismo para resolver parte de uma situação que nunca melhora, que está sempre a ser moldada conforme os interesses dos "poderosos" que têm o controle da sua articulação política. Então, do ponto de vista desses individuos, não é tão absurdo assim pensar em receber, como agradecimento da sua lealdade a esses políticos, utensílios de pequeno valor material que significam tanto para vidas mais do que simples, necessitadas. Esses cidadãos não têm a visão dapolítica como um todo, mas como uma parte - a sua parte da história - que muda, talvez, significativamente sua sobrevivência até as próximas eleições.
É lógico que não quero aqui justificar a validez desses votos, mas tentar compreendê-los. O necessário seria esclarecer para toda a população a importância da sua escolha política, e, se possível, fazê-la entender na prática o que isso significa através das reformas que o governo empreendesse.
Acho - e esta é só a minha opinião do assunto - que tudo se resume numa doce escapatória que todos querem para o destino do país e de suas famílias. Seja o voto obrigatório do descrente, seja o das trocas de favores ou seja o dos engajados políticos e carregadores de uma ideologia política, todos temos perspectivas do voto sobre uma visão diferente e, quase sempre achamos que ele muda de alguma forma a conjuntura do estado-nação. O voto não é uma questão de ser errado ou certo, mas de ser relativo à visão de alterar, ou não, os rumos que um governo toma, no qual cada um defende o que acha que é melhor, seja direta ou indiretamente, para si.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pensamentos Cartesianos

Em quem acreditar? No que acreditar? Acho que estou numa fase de ceticismo, ou talvez, de inferno astral...se é que ele existe. Não sei mais em quem acreditar...isso é agoniante.
Acontece que acho que o mundo é mais que lógica e razão... não existe só o pensamento, existe também a palavra dos outros: a fé. Ou você acredita no que te dizem (acreditar não signiffica meramente aceitar tudo que lhe é exposto. Me me refiro aqui, acreditar no que não é possível ser comprovado e vai além do mundo material) ou opta por insistir na dúvida. Deixe-me explicar melhor: existe a fé nos sentimentos. Não existe garantias do sentimento de uma pessoa, existem evidências que você pode acreditar ou não...ou talvez nem as evidências existam e é aí que você desconfia ainda mais do sentimento dos outros. Se uma pessoa lhe disser que gosta muito de você: o que fazer? acreditar? ignorar? É tudo uma questão de fé; de confiança. Você nunca terá garantia daquela "verdade" dita pois simplesmente você não é a outra pessoa e não tem como entrar na mente dela.
Acho que talvez seja melhor ficar no éter do que mergulhar no caos que é o questionamento de uma coisa que nunca se obterá uma resposta e que com indagações que não são respondidas nunca, você só se fere cada dia mais.

domingo, 12 de setembro de 2010

O Capitalismo e suas reinvenções

É certo que não se pode vislumbrar uma revolução daqui a cinco ou dez anos, ou quem dirá milênios, que modifique toda a estrutura sócio-ecnômica-cultural de uma sociedade, fazendo com que nós mudemos nosso modo de pensar e agir. Mas, ignorando e ao mesmo tempo reafirmando esta frase, digo que não consigo enxergar outro modo de vida vigente sem ser o capitalismo: é que ele se renova e se constrói cada vez mais forte. Em todas as crises ele se supera e a cada nova invenção ele aumenta suas formas de mais-valia.

As inovações tecnológicas surgem no contexto de se prontificar às demandas desse sistema econômico Dessa forma, na era digital que vivenciamos, assistimos ao soerguimento da internet com todas as suas artemanhas para fortalecer as relações capitalísticas. No início, com um pouco de desconfiança dos internautas, ela lança mão de uma compra e venda onlin, diminuindo tempo e espaço ´para ambos os lados. Fica mais fácil tanto para o vendedor que amplia sua área de influência e seu lucro, quanto para o comprador, que tem acesso a uma maior gama de objetos-alvo para sua utilização, além de poder pesquisar mais facilmente preços de acordo com seu orçamento, ou não - já que o crédito está aí pra isso.

Agora, além dessas transações econômicas online, inventou-se portais para anunciação de serviços e produtos que chamam atenção não por suas propagandas habituais, mas por suas promoções 'anormais'. Todo dia os usuários cadastrados nessas espécies de 'redes sociais de comércio' são avisados de promoções nos mais diversos gêneros (roupas, restaurantes, estética, etc), podendo pegar barganhas de até 90 porcento de desconto.

Sim: o capitalismo parece se superar a cada instante que passa. Esses portais, recentes no Brasil. já são bem comuns nos Estados Unidos - o pai do consumismo. Fica claro que esses novos tentáculos do sistema capitalista corrobora não só seu complexo econômico, porém, mais que isso, seu complexo ideológico. O público espera ansioso pelas novas ofertas que virão, as pessoas veem-se impelidas a participar daquela promoção extraordinária e imperdível, e antes o que era inacessível parea muitas pessoas, torna-se objeto de desejo - e um desejo realizado - que vem para dar forças à ideologia consumista. Essa é a nova reinvenção do capitalismo.

*A propósito, consegui uma promoção ó-ti-ma no peixe urbano!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Her morning elegance





Ela era muito bonita e muito medrosa. E por ter medo de tudo: de arriscar, de viver, de sonhar, acabou por convir. Fazia as coisas por conveniência: tudo dava certo e tudo ocorria conforme o esperado. Não era abalada por surpresas e não era surpreendida por abalos.
Era tudo muito fácil. Acordava tarde por convir: quem não a esperaria? Chegava ao trabalho atrasada e não dava bom dia...quem se zangaria quando se tem um rosto fascinante para admirar? Sua beleza se comparava a qualquer anestesiante! Namorava um cara de que não amava: simplesmente gostava. Afinal de contas, era conveniente para os dois: ela teria uma compania e ele teria a mulher que amava. Usava as roupas mais caras e bonitas das lojas: tinha dinheiro e sua maior liberdade era fazer as compras do mês. Se alimentava só de salada: era conveniente para sua dieta. Se relacionava com 2 ou 3 pessoas no máximo. Não fazia questão de ter amigos: era conveniente não dar satisfações da sua vida. Dormia por conveniência: era rejuvenescedor para sua pele. Tinha um cachorro: convinha ter um animal de estimação para suprir sua carência emocional.

Até que, conforme os dias passavam, percebia que não era imune ao tempo e à tolerância dos que a rodeavam. O que ela não sabia é que as outras pessoas também tinham suas conveniências. Foi demitida pois não convinha a seu patrão aceitar seu mau humor diário. Seu namorado cansou de dedicar seu amor incondicional a alguém que não mostrava merece-lo. Não convinha mais se vestir com grifes: seu salário se sucumbira. Por conveniência, aprendeu a gostar de um bom feijão com arroz: era mais barato e dava mais sustância. Passou a tentar investir em novas amizades e construir um campo de relacionamentos profissionais, sim, pois precisava de um novo emprego. Seu cachorro falecera por algum motivo qualquer e acabara por enfatizar sua solidão. Suas decepções aumentaram e sua insônia também: convinha à preocupação não deixá-la dormir e presenteá-la com olheiras.


Foi então que percebeu que a vida é mais que uma conveniência. Não tinha sido posta no mundo por que seus pais conviram. A atenção que dedicavam a ela era amor, não conveniência. Percebeu que a vida era feita de escolhase, mais que isso, escolhas difícies e errantes. Mas era muito mais prazeroso e gratificante correr atrás dos seus sonhos, antes perdidos, que convir às coisas que lhe apareciam. Descobriu que antes as migalhas do amor que oferecia a seu amante lhe pareciam agora um sentimento reprimido, porém verdadeiro; e foi sem seu orgulho costumeiro que pediu para reatar. Podia sentir agora o vento em seu rosto, acordava cedo para o batente, ria e sorria sozinha na rua, cumprimentava seus novos companheiros de trabalho e finalmente lutava para mostrar que merecia viver. A única coisa que lhe restara de seu passado conveniente fora sua elegância pela manhã e pelo resto da vida.

domingo, 5 de setembro de 2010

Relatos do lado de cá

Qualquer um que for ao município de Mangaratiba, no Estado do Rio de Janeiro, passará, consequentemente, pela entrada da praia do Saí/Sahy. Mas, se você resolver dar um pit stop para conhecer o local, tirar umas fotos e tomar um banho de mar, provavelmente será detido, a menos que conheça algum morador do local. É que a praia é restrita a moradores.
Numa era de questionamentos públicos, de reivindicações de direitos, por que ninguém se questiona de uma praia se tornar um objeto privado? O que não nos faltam são indícios de um certo sarcasmo com a propriedade pública. Sim, propriedade pública, pois praia é de direito de todos os cidadãos. O que não nos falta são indícios desse abuso, não só o Saí em particular, mas todos os ricos, famosos e empresas de grande porte detentores de ilhas particulares.
Acontece que, tudo é uma questão de ponto de vista. Dependendo do lado em que se está, é completamente viável defender ambas as posições: o de quem é destituído do direito de frequentar a respectiva beleza natural, e os que as frequentam e primam por ela. Todo mundo que está do lado de cá - dos destituídos - quer de alguma forma aproveitar e se sentir incluído numa atração de sua região. quem está do lado de lá - 'detenores do poder" - querem privacidade e, mais que isso, querem cuidar, com a consciência de quem tem a posse, do lugar que está responsável, seu cantinho de repouso.
Indo à praia do Saí dá para entender melhor do que se fala: segurança, limpeza, condomínios bonitos e arrumados e, lógico, por trás de tudo isso, dinheiro que paga toda essa calmaria e privacidade. E é por toda essa qualidade ambiental e habitacional que se mantém frente à ocupação urbana e ao turismo, que se exige essa condição de exclusividade. Não precisa ir muito longe para comparar Saí a outras praias vizinhas: Muriqui já está bem poluída e, Praia Grande, quase deserta em dias comuns, se enche de moradores e famílias viajantes nos feriados, ansiosos por fazer seus churrascos na orla e jogar lixo na praia. Em qualquer feriado de sol, esta fica entupida de gente e o mar, sem nenhuma culpa, se enche de sacos plásticos e até mesmo detritos orgânicos. As estrelas-do-mar antes tão comuns, agora são mais raras de se encontrar.
Não sou bióloga ou coisa parecida, mas são meus relatos pessoais - pouco provável de ser enganada sensivelmente - que conto e trago a vocês para mostrar as mudanças que o homem impele à natureza. Então, apesar de não estar "do lado de lá", entendo o posicionamento de moradores do local. Pode até parecer que educação e respeito à natureza seja um caso de grana/dinheiro- é possível que em parte seja no Brasil - mas não é desculpa para todos os males. Os cartazes e anúncios públicos sempre nos lembram da importância da educação sanitária e, simlpesmente parte da população ignora esses avisos. Não sou preconceituosa ou elitista (estou longe disso), mas quem não quer uma praia limpinha e civilizada para desfrutar?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Que país é esse?

"(...) Se desmorono ou se edifico,

Se permaneço ou me desfaço,

_ não sei, não sei . Não sei se fico

ou passo (...)"


(Cecília Meireles)


Sabe quando você chega ao ponto de não saber como reagir com certas situações? Quando mais uma denúncia te deixa incrédula e ao mesmo tempo intacta por dentro, porque simplesmente você sabe que as coisas são dessa forma e não mudam? Pois é, parece que os abusos de poder público e corrupções não chegam ao fim: o ralo está aberto e o cheiro de esgoto não para. Acontece que, olhando rapidamente o portal da Uol uma notícia me chamou a atenção :


Juiz militar do caso Cissa é preso por furto de cabos de telefonia no Rio


Em qual autoridade podemos dar créditos hoje em dia? Quem deveria exercer uma função digna de ética, para poder julgar com capacidade e servir como exemplo de profissional moralmente intacto, está, na verdade, tão pouco passível de ser aceito com confiança como aqueles que serão julgados pelo mesmo. Talvez estejamos na era do ditado : ladrão que julga ladrão tem cem anos de perdão. Estamos imersos numa cadeia alimentar intoxicada. Sabe quando um peixe menor contém em si um material tóxico e, quando seu sucessor na cadeia alimentar vem alimentar-se desse mesmo peixe, de modo a dar uma continuidade àquela podridão ao passo que esta teia vai se estendendo? Então, é mais ou menos assim que estamos. Quando assistimos aos noticiários para nos informar das tragédias costumeiras que queremos estar a par, o peixe mor chega com toda sua fetidão...uma avalanche de acontecimentos nos é exposta, continuamos a nos surpreender e a nos conformar com essas situações: a bola de neve parece não ter fim e assim incorporamos aquele pensamento que parece mais transcendental que humano "a política é assim, os nossos representantes são assim, a polícia é assim..não adianta, não muda. Estamos sujeitos a essa força superior, o que nos resta agora é aceitar". Será mesmo que tem que ser assim? Será que não há uma maneira eficaz de acabar com isso, além de denunciar através da mídia e depois tudo se calar e voltar ao normal até que outro avalanche nos abale?
É curioso como o portal da internet classifica a notícia: "Cotidiano". Entendo sua colocação, mas parece irônico...essas falhas são tão cotidianas que às vezes podem passar despercebidas ou, se notadas, o efeito narcotizante sobre nós já é tão presente que simplesmente não ligamos. Estou muito nova para me conformar. Será que vai ser sempre assim? Não sei, não sei se fico ou se passo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Intertextualidade em prática

Sabe, sinto como é bom ter amigos que te inspirem a escrever! Pois é, vai ver é como modelo que posa para o artista fazer a mais bela pintura...acho que isso foi piegas demais e meu texto não será comparado a mais bela pintura, mas foi uma questão de inspiração absoluta.
Tudo começa quando numa prosa, uma amiga me contou de um fato de sua vida e posso dizer o seguinte dele: ela recebera um livro com uma meia sua dentro. Não pude deixar o momento escapar. Lembrei logo do segundo filme de Harry Potter quando Dobby e libertado de sua escravidão. Portanto, se em algum momento de sua vida quiser libertar alguém ou a si mesmo de algum mal, simplesmente dê um livro com uma meia dentro, ou peça que o façam por você.

Pode ser descontraído como numa brincadeira: "Te liberto de lavar a louoça", "Te liberto daquele amigo chato";

Pode ser melancólico como numa despedida: "Te liberto de mim e de tudo aquilo que vivemos juntos: vai, agora vc está livre!";

Pode ser irônico como entregá-lo dentro de uma Bíblia: "Te liberto de todos os males, amém!";

Seja o que for, é uma boa maneira de se libertar alguém. Quando for independente talvez peça para ser libertada dessa maneira. Uma forma bem estranha, bem a-normal de independência e bem ficciosa. Mas se assim não for, e , pelo contrário, me aprisionarem no pinel, digo que valeu a tentativa, pois afinal de contas, me libertei de certa forma de um preconceito ou de uma morbidez que torna a vida em um marasmo. Azar daqueles que se prendem às engrenagens da sociedade amparada pelas normas da sociedade.


sábado, 21 de agosto de 2010

medo medo medo medo medo


Qual é o gosto da coragem? Se alguém souber preparar esse prato e me apresentá-lo, fico grata. Se tiver um tempero que facilite sua digestão e incorporação por meu organismo, melhor ainda.



Procuro na lembrança as oportunidades que tive para devorá-la, e como num sonho, acordei sem saber seu sabor: um vazio; um branco que após sua solidez, deixou um ponto de interrogação. Descobri, através de conversas cotidianas com amigos queridos, que ela vem recheada com força e atitude.


Lembrei: a interrogação foi substituída por uma exclamação ! Tudo que encontrei foi o medo. Deste eu lembro o gosto...um tempero tão doce que era prazeroso degluti-lo. As coisas vão se ajustando na mente e as imagens vão se desembaçando: é que quando precisava tomar uma decisão, o cardápio só oferecia duas opções, cada uma anulava a outra, de modo a não poder escolhê-las simultaneamente. Foi por causa desse dia que tenho hoje o sabor de minha vida mutável.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Charada


O que é, o que é? Uma palavra que tem 7 letras e termina com "a"? Uma palavra que é restrita em suas sílabas mas seu tamanho é flexível: pode ser tão longa ou tão curta? Uma palavra que às vezes recorro, aliás, acho que todos já reccorremos algum dia? Uma palavra que não gosto mas ela me persegue: não conseguiria me sentir um pouco livre sem ela, e ao mesmo tempo me sinto tão presa aos seus efeitos sobre mim? Uma palavra que me corrompe e me corrói? É a antítese da liberdade: quanto mais se usa, mais ficamos refém dela. Algumas pessoas até a têm como combustível e a utilizam como se seu sobrenome fosse a mesma. Não é isso que eu quero, não é disso que eu preciso, não é isso que eu espero de mim. Simplesmente, no momento, estou atrelada a ela. Parte de uma cumplicidade: eu e ela, ela e eu.



Ela, o que é ela? Já adivinhou?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

De esquerda

Hoje, dia 13 de Agosto é comemorado o dia dos canhotos! Bom, coincidentemente, sexta-feira treze...mas é com maestria que vim parabenizar a todos os esquerdistas do planeta! É devido ao programa Sem Censura, que em seu programa hoje, dentre outras coisas, comentou este fato, que a ideia de produzir este texto me veio à cabeça. Descobri, entre algumas dificuldades, algumas brilhantes faculdades que essas pessoas têm. Tenho inveja deles: segundo WIKIPEDIA, e a várias pesquisas científicas, acabei por saber que, sua facilidade com o lado esquerdo implica o maior funcionamento do lado direito do cérebro, que é geralmente associada à genialidade e correlacionada com habilidades artística e visual.
Acho que também existe um dia para os destros, como eu, mas não é comentado, afinal de contas, somos maioria...então para que um dia somente para os comuns? Descobri ainda, entre todas as coisas, que alguns gênios eram canhotos, a citar, Da Vinci, Einstein, Newton, Ayrton Senna...mas não consigo me recordar de nenhum destro, será que somos desprivilegiados de habilidades paranormais?
Descobri ainda um blog só para canhotos, mas não sei de algum só para os destros. É possível conferir, ainda neste blog o nome de famosos canhotos.Lembrei ainda, de um poema-pílula de Drummond que faz referência,ainda que com intenções diferentes das minhas aqui, aos canhotos, intitulado "Hipótese", do qual, por sinal, gosto muito:
E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez,
as coisas deste mundo.
Parei para pensar e vi que tenho alguns amigos canhotos...será que são gênios? Talvez alguns deles me leiam agora; talvez, a partir de mim, descubram seu dom,e eu me sentiria congratulada por isso.
Já não sei qual é mais minha intenção por aqui: se é parabenizar os esquerdistas do mundo, se é postar minha leve indignação com a falta de "uni-vos" dos destros, enquanto os canhotos ganham o mundo,ou se...sei lá!
Só queria deixar claro, apesar de tudo, a minha admiração com essas pessoas que superam barreiras criadas por nós, de direita, como abridores de latas e grades de caderno (rs), além de preconceitos que sofrem diariamente,como a imagem criada de que olado esquerdo é "errado", "estranho", enfim...parabéns para vocês!!!!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

X

Tudo-jogo-de-interesses


__Desde pequena ouvi dizer que o oposto do amor é o ódio. Aparentemente essa palavra é bem viável para ser o antagonismo do amor. Acontece que não percebia, e não parava para analisar - talvez até por minha ingenuidade e/ou falta de experiância própria - que um é a continuação do outro. Quando se interrompe o amor de uma maneira bruta, a sua metade vem para preencher o vazio que fica: o ódio toma conta do amante.
__Atenção! Não confundir raiva com ódio. O primeiro se tem em qualquer situação, o segundo, em minhas hipóteses, só acontece posteriormente ao que chamamos de amor.Como disse Martha Medeiros¹ num de seus textos, "O ódio é também uma maneira de se estar com alguém".
__Acrescida um pouco mais de anos de vida e capacidade de discernimento, achei o amor a cara e a indiferença a coroa. Sim, pois parece óbvio que para a cara é suposto que seja a entrega indicriminada de um ser para outro; entrega de carinho e atenção; entrega de presença física e abstrata. E, para a coroa, é suposto que seja a negação dessas entregas. Mas, mais que isso, é uma ausência de sentimento. Não se pode dizer que se constrói ou destrói algo. Simplesmente não se satisfaz com coisa alguma e não há maneira de atingi-la. Acho que é por esses motivos que questiono se a indiferença é realmente o contrário do amor. O amor é sentimento, é o preenchimento de algo que estava faltando. E para ter outra coisa que seja seu antônimo é preciso substituí-lo, não complementá-lo ou simplesmente deixar ali um vazio. Como disse ainda Martha Medeiros : " A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada".
___E, finalmente chego ao meu propósito. Antes de tudo refutei as sem razões do amor e seus complementos. Agora falo do que acredito ser veementemente a negação do amor: o interesse. Para mim, digo que o interesse é também um sentimento. Ele substitui o amor em suas mais sinceras intenções. O amor é complexo em sua raiz e definição, mas simples em suas atitudes e em seu reconhecimento. O interesse não, é objetivo e simples quanto a sua definição, mas possui mil facetas em suas intenções. A maneira com que joga é ampla e seus passos são misteriosos. Nunca se sabe fielmente o que a outra pessoa quer. O amor é prolixo, nunca se tem uma definição do por quê de amar; o interesse é pragmático. O amor é transparente,o interesse engana. Acho que o motivo de minhas palavras é um: tenho medo do interesse: de ser enganada: de me entregar ao que me explora: de me machucar com o amor que criei e com o interesse que recebi como resposta.Não que seja altruísta por completo e que seja santa, mas que tenha meus receios para com alguém que suspeito não gostar verdadeiramente de mim. Por favor, se esse alguém me lê, peço que tenha piedade comigo.

¹Martha Medeiros com seu texto "O contrário do amor".

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Das Habilidades

*Houve duas oportunidades em que pude testar minhas habilidades como jogadora. Seguido desses momentos, aparecera um texto que além de me rotular (positivamente), serviu como a carapuça do saci.
*Primeiro aconteceu de estar jogando damas com G. num dia qualquer. O jogo, desmerecido por ele (tenho minhas suposições do por quê) , foi levado com animação por mim. É com modéstia que digo que o superei de lavada e, para não deixá-lo triste, deixei-o fazer algumas poucas damas. Ele, decididamente, mas não com sua admissão, não gostou do jogo por não ter ganho, afinal de contas, segundo o próprio, damas é chato, bobo. E eu, após o triunfo, aproveitei o meu momento de, levemente, zombar dele: por que não ganhara um jogo tão idiota? Vai ver eu era "café-com-leite" e nem sabia...mas isso não muda os fatos: ganhei e pronto!
*A segunda oportunidade veio com minha aula de xadrez, ministrada por G., que segundo ele, sempre ganhava de seu tio, igualmente aprendiz como eu. Assim é fácil ser o nº 1...mas enfim, parti para minha primeira e única aula. Sempre pensara nesse jogo como sendo de nerd, e talvez o seja, pois a quantidade de horas que alguém deve ter que passar estudando as jogadas de cada peça não é mole não. Cada peça tem um jeito de andar, de comer, etc e tal. Ou eu sou realmente lerda, ou realmente se leva algum tempo e prática para assimilar as regras do xadrez. Admito que não consegui levar a partida até o final: a cada jogada que fazia era um integrante de meu "time" que se ia. Achei o jogo chato e de uma forma ou de outra, ele vencera.
*O seguinte fato que procedeu veio para dar a luz a questões não esclarecidas anteriormente. Veio a ocorrer que algum tempo depois, lendo um conto de "Histórias extraordinárias" de E. A. Poe achei o texto que justifica os acontecimentos que se passaram - palavras mais apropriadas não poderia achar, considerando uma questão de coincidência perfeita. O conto intitulado "Os crimes da Rua Morgue" contém tais palavras:
" (...) No entanto calcular não é o mesmo que analisar. Um enxadrista por exemplo, efetua uma dessas coisas sem esforçar-se quanto à outra. Segue-se daí que o jogo de xadrez em seus efeitos sobre o caráter mental, é muito mal compreendido (...) Aproveitei, pois esta ocasião para afirmar que as faculdades mais importantes da inteligência reflexiva agem de maneira mais decisiva e útil no simples jogo de damas do que em toda essa frivolidade complicada do xadrez. Neste último, onde as peças têm movimentos diferentes e estranhos, com valores vários e variáveis, o que é apenas complexo é considerado (erro nada incoomum) profundo. A atenção, aqui, é poderosamente posta em jogo. Se se descuida um instante, e se comete um engabo, os resultados implicam perda ou derrota. Como os movimentos possíveis não são apenas variados, como também complicados, as possibilidades de tais descuidos se multiplicam e, nove em cada dez casos, é o jogador mais atento o que vence, e não o mais perspicaz. No jogo de damas, pelo contrário, onde os movimentos são únicos e têm pouca variação, são diminutas as probabilidades de descuido e, como a atenção quase não é empregada, as vantagens obtidas por uma ou outra das partes são conseguidas devido a uma perspicácia superior. Exemplificando o que dissemos, suponhamos um jogo de damas em que as peças sejam reduzidas a quatro reis e onde, naturalmente, não é de se esperar qualquer descuido, É evidente que, aqui, a vitória só poderá ser decidida (achando-se os jogadores em igualdade de condições) pelo movimento recherché¹ resultante de um determinado esforço de inteligência (...)"

Após este argumentos pude chegar a uma conclusão:

Ele, atencioso; Eu, perspicaz ;)

¹Rebuscado

domingo, 1 de agosto de 2010

Chico Buarque

A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Le Petit

Assistindo ao filme esta semana, achei-o merecedor de um post. O filme francês, "o Pequeno Nicolau" em português, é bem diverso do que estamos acostumados: conta a história de um menino, Nicolas, que vê sua vida mudada ao descobrir que terá um irmãozinho. Desconfiado que será preterido pelos pais, e até mesmo, abandonado na floresta, decide, com a parceria de seus amigos, tramar um plano para que essa criança não faça parte da família. Além de ser uma história cativante e própria para todas as idades,posso dizer ainda que o que chama a atenção são as crianças: dei gargalhadas com elas e cheguei até a chorar. É impossível não se divertir com as múltiplas personalidades que fazem parte do enredo e as engenhosidades de uma infância inocente, preocupada com uma situação aparentemente banal para um adulto, mas que invade o imaginário de uma criança de tal forma a deixa-la impaciente. Pode-se notar tambem, não só as preocupações de crianças, mas de adultos ocupados com as aparências e bajulações, propostas no filme principalmente pelos pais de Nicolas e suas relações com o chefe. Mas mesmo com essa leve crítica nas cenas relativas a este assunto, o humor não é posto de lado. Recomendo a todos assistirem a este enredo sensacional, que a crítica classifica como "aplaudindo de pé": não mentiu a este respeito.