domingo, 5 de setembro de 2010

Relatos do lado de cá

Qualquer um que for ao município de Mangaratiba, no Estado do Rio de Janeiro, passará, consequentemente, pela entrada da praia do Saí/Sahy. Mas, se você resolver dar um pit stop para conhecer o local, tirar umas fotos e tomar um banho de mar, provavelmente será detido, a menos que conheça algum morador do local. É que a praia é restrita a moradores.
Numa era de questionamentos públicos, de reivindicações de direitos, por que ninguém se questiona de uma praia se tornar um objeto privado? O que não nos faltam são indícios de um certo sarcasmo com a propriedade pública. Sim, propriedade pública, pois praia é de direito de todos os cidadãos. O que não nos falta são indícios desse abuso, não só o Saí em particular, mas todos os ricos, famosos e empresas de grande porte detentores de ilhas particulares.
Acontece que, tudo é uma questão de ponto de vista. Dependendo do lado em que se está, é completamente viável defender ambas as posições: o de quem é destituído do direito de frequentar a respectiva beleza natural, e os que as frequentam e primam por ela. Todo mundo que está do lado de cá - dos destituídos - quer de alguma forma aproveitar e se sentir incluído numa atração de sua região. quem está do lado de lá - 'detenores do poder" - querem privacidade e, mais que isso, querem cuidar, com a consciência de quem tem a posse, do lugar que está responsável, seu cantinho de repouso.
Indo à praia do Saí dá para entender melhor do que se fala: segurança, limpeza, condomínios bonitos e arrumados e, lógico, por trás de tudo isso, dinheiro que paga toda essa calmaria e privacidade. E é por toda essa qualidade ambiental e habitacional que se mantém frente à ocupação urbana e ao turismo, que se exige essa condição de exclusividade. Não precisa ir muito longe para comparar Saí a outras praias vizinhas: Muriqui já está bem poluída e, Praia Grande, quase deserta em dias comuns, se enche de moradores e famílias viajantes nos feriados, ansiosos por fazer seus churrascos na orla e jogar lixo na praia. Em qualquer feriado de sol, esta fica entupida de gente e o mar, sem nenhuma culpa, se enche de sacos plásticos e até mesmo detritos orgânicos. As estrelas-do-mar antes tão comuns, agora são mais raras de se encontrar.
Não sou bióloga ou coisa parecida, mas são meus relatos pessoais - pouco provável de ser enganada sensivelmente - que conto e trago a vocês para mostrar as mudanças que o homem impele à natureza. Então, apesar de não estar "do lado de lá", entendo o posicionamento de moradores do local. Pode até parecer que educação e respeito à natureza seja um caso de grana/dinheiro- é possível que em parte seja no Brasil - mas não é desculpa para todos os males. Os cartazes e anúncios públicos sempre nos lembram da importância da educação sanitária e, simlpesmente parte da população ignora esses avisos. Não sou preconceituosa ou elitista (estou longe disso), mas quem não quer uma praia limpinha e civilizada para desfrutar?

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