segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Her morning elegance
Ela era muito bonita e muito medrosa. E por ter medo de tudo: de arriscar, de viver, de sonhar, acabou por convir. Fazia as coisas por conveniência: tudo dava certo e tudo ocorria conforme o esperado. Não era abalada por surpresas e não era surpreendida por abalos.
Era tudo muito fácil. Acordava tarde por convir: quem não a esperaria? Chegava ao trabalho atrasada e não dava bom dia...quem se zangaria quando se tem um rosto fascinante para admirar? Sua beleza se comparava a qualquer anestesiante! Namorava um cara de que não amava: simplesmente gostava. Afinal de contas, era conveniente para os dois: ela teria uma compania e ele teria a mulher que amava. Usava as roupas mais caras e bonitas das lojas: tinha dinheiro e sua maior liberdade era fazer as compras do mês. Se alimentava só de salada: era conveniente para sua dieta. Se relacionava com 2 ou 3 pessoas no máximo. Não fazia questão de ter amigos: era conveniente não dar satisfações da sua vida. Dormia por conveniência: era rejuvenescedor para sua pele. Tinha um cachorro: convinha ter um animal de estimação para suprir sua carência emocional.
Até que, conforme os dias passavam, percebia que não era imune ao tempo e à tolerância dos que a rodeavam. O que ela não sabia é que as outras pessoas também tinham suas conveniências. Foi demitida pois não convinha a seu patrão aceitar seu mau humor diário. Seu namorado cansou de dedicar seu amor incondicional a alguém que não mostrava merece-lo. Não convinha mais se vestir com grifes: seu salário se sucumbira. Por conveniência, aprendeu a gostar de um bom feijão com arroz: era mais barato e dava mais sustância. Passou a tentar investir em novas amizades e construir um campo de relacionamentos profissionais, sim, pois precisava de um novo emprego. Seu cachorro falecera por algum motivo qualquer e acabara por enfatizar sua solidão. Suas decepções aumentaram e sua insônia também: convinha à preocupação não deixá-la dormir e presenteá-la com olheiras.
Foi então que percebeu que a vida é mais que uma conveniência. Não tinha sido posta no mundo por que seus pais conviram. A atenção que dedicavam a ela era amor, não conveniência. Percebeu que a vida era feita de escolhase, mais que isso, escolhas difícies e errantes. Mas era muito mais prazeroso e gratificante correr atrás dos seus sonhos, antes perdidos, que convir às coisas que lhe apareciam. Descobriu que antes as migalhas do amor que oferecia a seu amante lhe pareciam agora um sentimento reprimido, porém verdadeiro; e foi sem seu orgulho costumeiro que pediu para reatar. Podia sentir agora o vento em seu rosto, acordava cedo para o batente, ria e sorria sozinha na rua, cumprimentava seus novos companheiros de trabalho e finalmente lutava para mostrar que merecia viver. A única coisa que lhe restara de seu passado conveniente fora sua elegância pela manhã e pelo resto da vida.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluiro melhor texto, na minha opinião.
ResponderExcluiré seu? (não é desmerecimento, pensei que pudesse ser a tradução da música)
:)
É meu sim! rs
ResponderExcluirSó q tenteo fazer um paralelo com o vídeo...
Obrigada :)