Era uma pessoa intrigante. Irritava com suas tolas brincadeiras e falta de personalidade. Sua estupidez e sua mente maquiavélica. Surpreendia com sua seriedade e sua inteligência. Sim, tinha inteligência: seu ócio era por mera opção. E fico pensando o que não poderia se tornar se desenvolvesse o potencial que, achava eu, carregava.
Mas não seria personalidade o que era? Dividia-se em dois: numa dualidade que quase podia separá-lo em bem e mal, chato e legal, entediante e...o que mais? Duvidava (eu) da imagem que queria mostrar. Parecia querer ser alguém impiedoso e soberano. Mas mal podia eu acreditar no que via, pois sua imagem colocava muitas vezes em contrapartida o que dizia ser. Entretanto, as más línguas confirmavam sua inescrupulosidade.
Podia ser quase adorável e quase desprezível. Não era uma pessoa fascinante, Talvez nunca pudesse sê-lo. Mas o que seria então?Era abstrato o pensamento que nele vagava. Era a oscilação do vazio com a presença. Era a tentativa de formar um conceito ou uma teoria que não fosse aplicável ao concreto.
Podia dar a sensação de proteção e amabilidade. Mas não se esforçava para parecer perigoso: podia dar medo com suas palavras, sem necessidade de ser sério; suas brincadeiras às vezes carregavam um quê obscuro. E seu riso podia até retrair corpos ou mentes para um canto afastado de si.
O que era? Talvez a incompreensão do que é um humano . É a dúvida, ou não, se o tempo pode trazer a forma mais definida do que é o verbo SER. É a dúvida da dupla-personalidade (ou multi?) que pode se esconder num só corpo e num só espírito. Talvez tenha várias caras: uma quase bonita, outra quase feia, diria Clarice. Ele é um o quê? Um quase tudo.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Entreatos
Era o momento, não o que se situava entre a recepção e o adeus. Como numa fita de rebobinar, era o adeus que ansiava pelo retorno, para ser recebido e tudo voltar ao normal. Ou melhor, não era o adeus: era seu fantasma. Algo sem os abraços e beijos que ele sempre carrega consigo, sem mesmo aquele último olhar que traz o receio de esperar alguma resposta de pergunta nenhuma.
E logo veio o desespero do tempo interromper aquela rebobinação. Era a culpa do amor maior. Era o medo do último suspiro, da última cena, do último aplauso e da última visão da plateia que a cortina, ao se fechar, proporciona ao ator.
De repente era fácil perceber: os cílios não respiravam mais...já estavam afogados em lágrimas salgadas. A boca ressecada pelo mar morto que a regava. Pensar? o único pensamento era do instante que não fôra, do momento que se perdera, da infelicidade que se instalou.
O momento que pune, que, enquanto não obtiver seu desfecho, será só mais uma dúvida - uma angústia e nada mais.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
E eu pergunto e tento. Eu falho e erro. Eu me canso e descanso da luta de conviver. Conviver de bem com o meu modo de passar o tempo e conviver com o peso da consciência. Consciência de ter mais para fazer e aproveitar, de me doar mais à tentativa. O peso de fracassar por causa nobre: meu ego me mantém estática. O peso do tempo que não perdoa. O peso da consciência que a morte não engana.
Vozes passadas soam na mente, soçobrando algo que machuca. A verdade dói.
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