quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SÓ DE SACANAGEM

Ainda me lembro da primeira vez em que conheci o texto de Elisa Lucinda intitulado “Só de sacanagem”. Foi numa bela tarde primaveril, enquanto escutava um CD de Ana Carolina que descobri este achado. Tive outras oportunidades de relembrá-lo, como numa prova de português do colégio ou, o motivo pelo qual escrevo agora, por uma irritação pessoal.

Foi numa discussão, bem assim: começou-se a falar de política e sobre os candidatos do segundo turno à presidência. Acabei entrando em conflito sobre meu candidato e o deles. Acho que política é uma questão de ideologia, opinião e, muitas vezes, de falta de esclarecimento. Mas não acho que as palavras “certo” e “errado” se enquadrem neste assunto. E é isto que envolve nossa “briga”. À começar que esculhambaram meu candidato...por mais que eu não ache que ele(sentido impessoal) seja o ideal de representante, ou como disse Wagner Moura “ Não é com entusiasmo que irei votar”, acho que seja o melhor entre os dois. Por conseguinte, utilizaram-se de uma grande mídia para basear seus argumentos: parecia que não estava falando com pessoas reais, porém lendo uma revista que senti estar deslizando em minhas mãos com suas páginas repletas de acusações muitas vezes sem embasamento. E foi assim que a conversa deu rumo a um aspecto “você está errada”, “é um absurdo isso que você está falando”. Sei que são pessoas mais velhas e com mais experiência. Posso até mudar de idéia mais tarde quando tiver leitura suficiente para ter minha própria opinião bem mais consolidada do que esta que tenho agora como minha, mas realmente acho que eles não deveriam defender ferrenhamente um candidato que, para mim, não é digno de tanta defesa, ainda mais com a base não convincente de suas respostas.

Nervosa como às vezes fico quando sou contrariada, não expus as melhores cartas que tinha para dar sustentação a meu voto. Fiquei quieta muitas vezes com suas falas. E, depois, na hora de dormir, quando os pensamentos voltam à tona e o fim do túnel parece chegar, a irritação vem junto, te dando mil palavras e ideias. Como não convinha tocar no assunto de novo e gerar outro estresse para ambos os lados, vim aliviar esta tensão que guardo comigo. Escrevo um texto que não se dirige pessoalmente a eles; preciso , por aqui, afirmar uma posição: só de sacanagem vou votar com vontade neste candidato. Não vai ser com falta de entusiasmo, vai ser com força, para ratificar minha posição contra o candidato deles e contra eles. Para mostrar com orgulho que, assim como me disseram, não se pode acreditar em tudo que se lê, e que tudo aquilo não passava de uma farsa de palavras usadas pela mídia como poder de coersão. E, se uma vez eleito pelo voto deles o candidato que não sou a favor, que entre no governo com sorriso no rosto, e saia vaiado, porque é também com raiva e erros que se move o mundo e se escreve um texto.


domingo, 3 de outubro de 2010

Doce escapatória


Estou esperando a hora de ir votar. Minha primeira votação, e não farei por ela mais do que ela fez por mim. Tentei, na maneira que pude, acompanhar a corrida eleitoral e me informar sobre meus pretendentes a voto, e também sobre aqueles que já tinha descartado minha contribuição.
Essa "festa da democracia" que tantos mencionam me traz a mente vários pensamentos e indagações. Surgiu uma reflexão este domingo de manhã, quando lia João Ubaldo Ribeiro no jornal O Globo. Em seu texto ele destaca dois tipos de eleitores: os que votam porque é obrigatório e os que não viram campanha alguma e, se viram, não entenderam. Conforme esta última classificação, o cidadão "votaria errado", pois troca seu voto por dinheiro, empregos, dentaduras, intervenções cirúrgicas ou qualquer outra bagatela. Em suas palavras diz que esse eleitor "aproveita-se do voto na única ocasião em que ele lhe tem alguma serventia". Mas, realmente, que perspectivas esse eleitor deve ter do seu voto e da sua escolha? Talvez sua vida seja tão carente de coisas básicas que o que ele mais espera seja aquele imediatismo para resolver parte de uma situação que nunca melhora, que está sempre a ser moldada conforme os interesses dos "poderosos" que têm o controle da sua articulação política. Então, do ponto de vista desses individuos, não é tão absurdo assim pensar em receber, como agradecimento da sua lealdade a esses políticos, utensílios de pequeno valor material que significam tanto para vidas mais do que simples, necessitadas. Esses cidadãos não têm a visão dapolítica como um todo, mas como uma parte - a sua parte da história - que muda, talvez, significativamente sua sobrevivência até as próximas eleições.
É lógico que não quero aqui justificar a validez desses votos, mas tentar compreendê-los. O necessário seria esclarecer para toda a população a importância da sua escolha política, e, se possível, fazê-la entender na prática o que isso significa através das reformas que o governo empreendesse.
Acho - e esta é só a minha opinião do assunto - que tudo se resume numa doce escapatória que todos querem para o destino do país e de suas famílias. Seja o voto obrigatório do descrente, seja o das trocas de favores ou seja o dos engajados políticos e carregadores de uma ideologia política, todos temos perspectivas do voto sobre uma visão diferente e, quase sempre achamos que ele muda de alguma forma a conjuntura do estado-nação. O voto não é uma questão de ser errado ou certo, mas de ser relativo à visão de alterar, ou não, os rumos que um governo toma, no qual cada um defende o que acha que é melhor, seja direta ou indiretamente, para si.